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Cadê a alma de Diogo Nogueira no show do CD e DVD 'Alma brasileira'?
03/10/2016 12:18 em Música

Diogo Nogueira se escorou na obra sólida do pai, João Nogueira (1941 - 2000), ao ser lançado oficialmente como cantor no mundo do samba em 2007. Aos poucos, por motivações mais comerciais do que artísticas, o artista carioca começou a se debater entre o samba nobre da linhagem paterna e o pagode romântico que seduz público menos exigente. Em Alma brasileira (EMI / Universal Music), CD e DVD lançados com a gravação ao vivo do show captado na casa Vivo Rio em 25 de maio, Diogo canta samba bom – é justo ressaltar o acerto das interpretações de Alma boêmia (Toninho Geraes e Paulinho Rezende, 2010) e Cabô, meu pai (Moacyr Luz, Aldir Blanc e Luiz Carlos da Vila, 2003) – e também samba ruim, genérico, o tal do pagode romântico que, no caso do cantor, ganha tons sensuais.

Basta ouvir Tim tim por tim tim (Rodrigo Leite e Serginho Meriti, 2016), uma das novidades do roteiro, para perceber que Diogo também segue a cadência menos bonita do samba por questões empresariais. Afinal, trata-se de um artista bem-sucedido que lota grandes casas de shows exatamente porque canta o que o público (de Diogo) quer ouvir. Mesmo quando pisa no salão e cai no suingue do samba mais sincopado, como em Segue o baile (Luiz Cláudio Picolé e Flávio Cardoso, 2016), a escolha nada inspirada do tema torna o balanço menos envolvente.

No CD e DVD Alma brasileira, tudo soa um pouco mais harmonioso do que na gravação ao vivo do show. Mas nem assim o opaco dueto com Maria Rita em Beiral (Djavan, 1986) faz jus ao samba lançado por Djavan há 30 anos. Já o reencontro com Beth Carvalho, em Firme e forte (Efson e Nei Lopes) e Caciqueando (Noca da Portela), carnavalescos sambas de 1983, soa com mais vida e animação.

O que diminui o valor de Alma brasileira é a falta de foco do roteiro. Qual o sentido de cantar Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967) em ritmo de pagode? Qual a razão de dar voz a um sucesso de Tim Maia (1942 – 1998) como O descobridor dos sete mares (Michael e Gilson Mendonça, 1983), número incluído somente no DVD? Nestes momentos, dispensáveis, Diogo soa como mero cantor de barzinho.

Tampouco faz sentido a inclusão de Sangrando (Gonzaguinha, 1980) no roteiro porque, mesmo que Diogo tenha evoluído muito como cantor ao longo dos nove anos de carreira fonográfica, ele não é do tipo de intérprete passional e emotivo que se ajusta ao canto dos versos de Luiz Gonzaga do Nascimento Jr. (1945 – 1991).

No fim, ao alinhar série de pot-pourris com (grandes) sambas de sucesso, Diogo confirma a opção pelo caminho mais fácil, seguido na contramão da trilha que norteou o melhor álbum do cantor, Bossa negra (Universal Music, 2014), gravado com o bandolinista Hamilton de Holanda.

Enfim, o artista tem talento e aquele indefinível algo mais que abre as portas do sucesso. Se puser a voz e o carisma a serviço somente do melhor samba, mesmo que use a fina estampa para seduzir o público, ele ainda pode honrar o legado valioso do pai. Contudo, se persistir no caminho atual, Diogo Nogueira vai cada vez mais se apequenar diante dos gigantes do samba como João Nogueira e Zeca Pagodinho. O que falta em Alma brasileira é justamente alma, característica que diferencia um intérprete do outro e, ao mesmo tempo, identifica os grandes nomes da música.

 



(Crédito da imagem: reprodução da capa do CD Alma brasileira. Design de Bold. Diogo Nogueira em foto de Marcos Hermes)

FONTE: http://g1.globo.com/musica/blog/mauro-ferreira/post/cade-alma-de-diogo-nogueira-no-show-do-cd-e-dvd-alma-brasileira.html

 

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